sexta-feira, 6 de abril de 2018

A manobra fracassada


Os ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski tentaram ganhar no grito o que não puderam ganhar por meio da argumentação e da estratégia

O Estado de S.Paulo
06 Abril 2018 | 03h00
Se o julgamento do habeas corpus do sr. Lula da Silva mostrou que é possível o bom senso prevalecer no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), a sessão de quarta-feira passada também revelou até onde pode ir a ousadia de alguns ministros na tentativa de livrar o ex-presidente petista das consequências da lei. É normal haver num tribunal divergência de opiniões, mas o que os ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski fizeram ao longo do julgamento do mérito do habeas corpus foi muito mais do que expor suas posições jurídicas. Tentaram ganhar no grito o que não puderam ganhar por meio da argumentação e da estratégia.
Desde o início da sessão, ficou evidente a tentativa de manobra dos ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski. Em vez de julgar o processo que estava em pauta – o habeas corpus n.º 152.752 do ex-presidente Lula contra decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) –, eles queriam usar a sessão para realizar uma revisão geral da atual jurisprudência do STF, que considera plenamente constitucional a possibilidade de dar início à execução da pena após decisão de segunda instância. Tinham a expectativa de que a ampliação do escopo do julgamento de quarta-feira pudesse, de algum modo, dar sobrevida à tese – tão cara aos criminosos – de que a aplicação da pena precisa aguardar o trânsito em julgado da sentença.
A tentativa de manobra foi realizada sem pudor. Repetidas vezes o ministro Marco Aurélio afrontou, ao longo do julgamento, a autoridade da presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, exigindo que fosse pautado o que ele queria, e não apenas o habeas corpus de Lula da Silva. A ministra Cármen Lúcia foi de exemplar firmeza e serenidade, sem se curvar aos caprichos e deboches do ministro.
Especialmente constrangedora foi a reação de Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski durante o voto da ministra Rosa Weber. Quando perceberam que ela não se alinharia à posição em benefício do ex-presidente Lula, os dois ministros cobraram, em explícitos maus modos, explicações da ministra. Sem se perturbar com o destempero, a ministra Rosa Weber foi quem exigiu respeito, lembrando sua longa trajetória na magistratura. “Meu voto é claro. Quem me acompanha nesses 42 anos de magistratura não deveria ter qualquer dúvida do meu voto”, disse a ministra.
“A decisão judicial deve se apoiar não nas preferências pessoais do magistrado, mas na melhor interpretação possível do direito objetivo”, afirmou a ministra Rosa Weber. Tendo em vista que o STF permite o início da execução da pena após a decisão de segunda instância, ela reconheceu que não vislumbrava nenhuma ilegalidade ou abuso na decisão do STJ contra a qual o habeas corpus de Lula se insurgia.
Aos que pretendiam impor uma mudança na orientação do STF, a ministra Rosa Weber explicou que “compreendido o tribunal como instituição, a simples mudança de composição não constitui fator suficiente para mudar jurisprudência”. Em tempos de protagonismo individual, que turva a natureza institucional da Suprema Corte, a advertência da ministra Rosa foi de especial importância.
Os ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski não pareciam, no entanto, especialmente atentos às admoestações em prol da colegialidade. Até o final da sessão, estiveram empenhados na obtenção de algum benefício para o sr. Lula da Silva. Mesmo após a definição do placar de 6 a 5 contra o habeas corpus, o ministro Marco Aurélio ainda tentou que o ex-presidente petista não pudesse ser preso até a publicação do acórdão ou de eventuais embargos de declaração. A última manobra também não teve sucesso.
O papel do STF é aplicar e proteger a Constituição, e cabe a cada ministro defender, com liberdade, o que entende ser a melhor posição jurídica para cada caso que é julgado. Nessa tarefa, não cabe constranger os outros integrantes da Corte, alinhavar manobras, achincalhar a autoridade. Na quarta-feira passada, o País foi testemunha de um grande momento do Supremo, que assegurou igualdade na aplicação da lei, mas também viu atitudes que muito destoam do papel do STF. Felizmente, a artimanha foi desfeita.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Moeda virtual falsa foi usada por quadrilha em 'pirâmide financeira' no DF e em Goiás

De  G1 - 21.09.2017

Kriptacoin foi comprada por cerca de 40 mil pessoas e rendeu R$ 250 milhões a estelionatários, segundo Polícia Civil. Megaoperação deflagrada nesta quinta prendeu 11 suspeitos em Brasília e em Goiânia.

Por Mara Puljiz, TV Globo e G1 DF
 
Polícia Civil cumpre mandado de prisão e busca e apreensão na casa de um dos donos da Kriptacoin, em Vicente Pires, no DF  (Foto: Lázaro Aluísio/TV Globo)Polícia Civil cumpre mandado de prisão e busca e apreensão na casa de um dos donos da Kriptacoin, em Vicente Pires, no DF  (Foto: Lázaro Aluísio/TV Globo)
Polícia Civil cumpre mandado de prisão e busca e apreensão na casa de um dos donos da Kriptacoin, em Vicente Pires, no DF (Foto: Lázaro Aluísio/TV Globo)
A megaoperação deflagrada na manhã desta quinta-feira (21) pela Polícia Civil para desarticular um esquema de "pirâmide financeira" prendeu 11 suspeitos de comercializar a moeda virtual falsa Kriptacoin no Distrito Federal e em Goiânia.
Outras duas pessoas apontadas como integrantes da organização criminosa estão foragidas. Segundo a polícia, os suspeitos devem ser indiciados por estelionato, organização criminosa, lavagem de dinheiro e uso de documento falso.
A Operação Patrik apurou que o esquema movimentou R$250 milhões a partir de investimentos de cerca de 40 mil vítimas na moeda. Somente no DF, 14 pessoas chegaram a registrar boletim de ocorrência contra a empresa Wall Street Corporate, que gerenciava o negócio. Esta e outras duas empresas também foram alvo da operação.
Polícia Civil do DF cumpre mandado de prisão a um dos suspeitos de participar de empresa que vendia moeda virtual falsa Kriptacoin (Foto: Mara Puljiz/TV Globo)Polícia Civil do DF cumpre mandado de prisão a um dos suspeitos de participar de empresa que vendia moeda virtual falsa Kriptacoin (Foto: Mara Puljiz/TV Globo)
Polícia Civil do DF cumpre mandado de prisão a um dos suspeitos de participar de empresa que vendia moeda virtual falsa Kriptacoin (Foto: Mara Puljiz/TV Globo)
A Justiça expediu, ainda, 18 mandados de busca e apreensão no DF e na capital goiana. Oito carros de luxo foram apreendidos e estão no estacionamento do Departamento de Polícia Especializada em Brasília. Um helicóptero foi bloqueado no sistema da Agência Nacional de Aviação (Anac), mas ainda não havia sido localizado.
As investigações foram realizadas pela Coordenação de Repressão a Crimes contra o Consumidor, Ordem Tributária e Fraudes (Corf) em conjunto com a Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor (Prodecon), do Ministério Público do DF.
Carros de luxo apreendidos pela Polícia Civil durante operação que desarticula organização que comercializava a moeda virtual falsa Kriptacoin (Foto: Mara Puljiz/ TV Globo)Carros de luxo apreendidos pela Polícia Civil durante operação que desarticula organização que comercializava a moeda virtual falsa Kriptacoin (Foto: Mara Puljiz/ TV Globo)
Carros de luxo apreendidos pela Polícia Civil durante operação que desarticula organização que comercializava a moeda virtual falsa Kriptacoin (Foto: Mara Puljiz/ TV Globo)

O esquema

De acordo com as investigações, o esquema começou a ser articulado no final do ano passado e se consolidou no DF em janeiro de 2017. Os integrantes da organização se passavam por executivos e prometiam altos rendimentos com o negócio, com ganho de 1% ao dia sobre uma moeda virtual falsa – o resgate do saldo só poderia ser feito após um ano.
Para dar um ar de legalidade, eles marcavam reuniões, faziam anúncios em outdoors e propagandas, tanto na internet quanto na televisão, além de tirar fotos com cantores famosos.
Quanto mais investidores fossem recrutados para participar do negócio, a promessa de ganhos aumentava, com bônus de 10% por pessoa cooptada. Assim, o lucro crescia proporcionalmente à quantidade de aplicações feitas na cadeia, mas era tudo um golpe.
Polícia Civil cumpre mandado de prisão e busca e apreensão na casa de um dos donos da Kriptacoin, em Vicente Pires, no DF (Foto: Guilherme Timóteo/TV Globo)Polícia Civil cumpre mandado de prisão e busca e apreensão na casa de um dos donos da Kriptacoin, em Vicente Pires, no DF (Foto: Guilherme Timóteo/TV Globo)
Polícia Civil cumpre mandado de prisão e busca e apreensão na casa de um dos donos da Kriptacoin, em Vicente Pires, no DF (Foto: Guilherme Timóteo/TV Globo)
Segundo a polícia, uma das vítimas disse que aplicou quase R$ 200 mil sem retorno e, ao tentar resgatar os valores aplicados, foi ameaçada pelos "executivos" da falsa empresa.
As apurações também revelaram que o esquema funcionava com divisão de tarefas e que contava com falsificadores de documentos. Além disso, as três empresas que vendiam o serviço, alvo da operação estão, em nomes de "laranjas", cujo o patrimônio declarado não condiz com as movimentações financeiras.
A polícia descobriu, ainda, uma lista com cerca de 20 nomes falsos que eram utilizados pela quadrilha. As aplicações eram feitas pela internet por meio de uma plataforma digital, mas os depósitos eram feitos em contas correntes.
Polícia Civil do DF apreendeu dois cofres na casa de suspeitos de integrar quadrilha que vendia a moeda virtual falsa Kriptacoin (Foto: Mara Puljiz/TV Globo)Polícia Civil do DF apreendeu dois cofres na casa de suspeitos de integrar quadrilha que vendia a moeda virtual falsa Kriptacoin (Foto: Mara Puljiz/TV Globo)
Polícia Civil do DF apreendeu dois cofres na casa de suspeitos de integrar quadrilha que vendia a moeda virtual falsa Kriptacoin (Foto: Mara Puljiz/TV Globo)

Suspeitos

Entre os suspeitos alvos da operação no DF, três têm passagens pela polícia por injúria, ameaça, receptação, estelionato, formação de quadrilha, uso de documento falso, furto tentado, porte ilegal de arma de fogo, direção alcoolizada, lesão coporal, dano ao patrimônio e lesão culposa em acidente de trânsito.
Esta última passagem refere-se ao acidente provocado por uma Ferrari em maio deste ano no Lago Sul. O carro de luxo colidiu contra outro veículo, que capotou e deixou a motorista ferida. Ela estava com a filha de 1 ano.
Em Goiânia, um dos alvos é o administrador de uma das empresas e tem passagem por tráfico e falsificação de documentos.
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